domingo, 30 de janeiro de 2011

Porque estudamos filosofia?


Todos os que colaboramos nesta projecto, e muitos dos seus leitores, estudamos Filosofia na Associação Cultural Nova Acrópole. Todos queremos tornar próprio o lema que figurava no frontispício do Templo do Deus da Harmonia, Apolo, na cidade grega de Delfos: Conhece-te a ti mesmo. Lema que Sócrates e a Filosofia Grega divulgaram mas que afirma, na verdade, a tendência natural da alma uma vez que esta desperta a vida. Como dizia o sábio chinês Confúcio, existe um principio da Razão Celeste presente na alma humana e este quer abrir-se à Verdade como um lótus se abre à luz do Sol, depois de ultrapassar o meio liquido e lamacento em que vive. Os Egípcios chamaram a isto a Abertura do Coração e é quem sabe, o melhor símbolo da natureza filosófica da alma humana.

A verdadeira Filosofia decifra, graças à analogia, a lógica da natureza e vê no ser humano um reflexo desta mesma natureza e do Deus que a rege.

Porque Filosofia é amor à Sabedoria e não acumulação de conhecimentos, é consciência de unidade, percepção essencial das leis da natureza e da vida. É, como diria Platão, a música que se faz com a alma quando esta se encontra no seu estado de tensão natural, quando é fiel à sua própria natureza, quando não persegue nada alheio a si mesma. Ou como ensinava o professor Livraga, Filosofia é a harmonia de meios sempre viva na alma da natureza e que o ser humano pode perceber com o fogo da Razão Celeste.

Este Fogo espiritual é o que nos eleva acima da condição animal, o que vivifica os nossos sonhos mais belos e realizações, o que nos dá a capacidade de criar, de vencer as dificuldades “humanamente”, ou seja, de um modo digno e respeitando os valores morais. O mesmo Fogo que menciona o filme “A Estrada” realizado por John Hillcoat baseado no romance com o mesmo título de Cormac Mcarthy e vencedor do prémio Pullitzer de ficção. È o que diferencia o humano do humanóide, ou seja, a besta cruel e astuta sem qualquer tipo de valores nem princípios morais. Como bem ensina o pai que guia o seu filho por essa “última estrada” de um mundo em ruínas, há que preservar o fogo, o valor profundo do ser humano, o sentido inato de justiça e do dever ser e fazer.

Muitas vezes as sociedades preservam sob pressão externa e penal estes valores e regras de convivência social, mas o que sucede quando as sociedades se desmoronam, como tantas vezes podemos presenciar na história? Então, estão aqueles que cedem ao instinto da mais básica sobrevivência, ao medo ou aos desejos de poder e crueldade sem qualquer freio, e os que têm como o mais apreciado dos seus tesouros, a sua própria essência, a chama da sua liberdade interior, ou seja, a chama da justiça, da natureza humana que nos diferencia das bestas. Pois bem, esse Fogo é o Fogo dos Filósofos, o amor e fidelidade à verdade, a chama do idealismo, a luz da inteligência, o reino da transformação incessante e da busca de perfeição.

Porque estudamos Filosofia?

Para aprender a ler no Livro da Vida e aprender as Leis que a regem. Para nos submergirmos no mistério da Alma humana, entender ou então, intuir porque estamos aqui, de onde vimos, para onde vamos. Para nos conhecermos a nós mesmos e não sermos escravos dos nossos medos e desejos e de desejos ou medos dos outros. Para penetrar na alma de todas as tarefas

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sejamos honestos

Um sábio hindu afirmou que viver é criar, transformar-se e triunfar. A vida exige-nos triunfar, mas não ao preço de perdermo-nos a nós mesmos, não ao preço de entregar a alma à troca, ou seja, de perdermos a honestidade.

O contrário da honestidade é a corrupção, a mais grave doença da alma, pois com ela perde-se a verdadeira natureza humana e no espaço desocupado entra a besta astuta e sem escrúpulos, para quem os outros se convertem em meios e deixam de ser fins em si mesmos. Essa besta é o egoísmo, o medo e a soberba que vivem entre as nossas próprias sombras, escondidos na escuridão, esperando uma nova vítima, esperando devorar o melhor de nós mesmos, os nossos valores morais, os nossos sonhos e ideais, a nossa honestidade.

Árduo assunto a honestidade. É como uma jóia de puríssimo resplendor que devemos manter limpa e intacta, seja qual for o preço a pagar. Na filosofia egípcia é a pena da Deusa MAAT – a Ordem, Verdade e Justiça – que governa o universo, e se o coração pesa mais do que ela, sentimos que somos devorados pela vida e tornamo-nos rígidos, duros e impiedosos.

A honestidade é o resplendor da alma, a beleza interior, a esperança do mundo, pois um mundo sem honestidade caminha inexoravelmente para a destruição.

Falta honestidade e qualquer ser humano se converte no nosso potencial inimigo, no nosso futuro predador ou vítima. Aquele que perde a honestidade perde tudo, e é tão fácil perdê-la num mundo onde o dinheiro é a medida de todas as coisas! E por detrás desse dinheiro está, muitas vezes, a sede da sensação sem fim, como mil peixes com a boca aberta pedindo comida, o desejo imoderado de prazer e poder, a falta de peso moral.

Um político que busca a honestidade para atrair votos já está corrupto. A honestidade não é um meio para alcançar os nossos fins egoístas, é a natureza mais íntima do ser humano.

Cícero diz que a honestidade leva necessariamente à felicidade, por muito esforçado e difícil que seja protegê-la; a perda de honestidade leva à atrofia interior, à morte da alma. Não há paz para quem por medo ou avidez entregou o melhor de si como moeda de troca.

Aristóteles dizia que virtude, ou excelência absoluta, é a que tem por finalidade a beleza da alma e a honestidade.

Até o famoso treinador português, José Mourinho, hoje treinador do Real Madrid, numa entrevista ao “El País”, de 23 de Agosto, quando lhe perguntaram: “que aprendeu do seu pai?”, responde: “a honestidade”. E continua: “ a honestidade é o mais importante de um treinador e, quem sabe, de um homem (...) Para ser um homem, e para passá-lo ao futebol, para ser um líder, porque um treinador é um líder, parece-me que a honestidade é o mais importante(...) Cometerei erros nas minhas decisões, nas minhas análises, mas guardarei o máximo de honestidade com os meus jogadores. Nunca lhes chegará uma decisão ou uma critica pela boca de outra pessoa.”

A honestidade é o espelho da alma que, quando está puro, e, para além disso, é limpo de prejuízos e artifícios mentais, mostra-nos a alma de todas as coisas, a sua vida interior, os segredos mais íntimos da natureza; e quando se perde, converte-se numa boca escura e insaciável, que tudo arrasta à sua passagem.

A honestidade é a água pura das relações humanas e a única que dá valor às nossas palavras e actos. Quando a misturamos com o interesse próprio, é como quando derramamos tinta ou veneno à água que bebemos. Isso é referido na obra mística e literária, Voz do Silêncio: as puras águas de vida interna, puras e cristalinas não podem misturar-se com as correntes lamacentas da tempestuosa monção.

Quem é honesto de verdade, no final, é sempre amado, o que é desonesto é desprezado ou temido.