domingo, 23 de janeiro de 2011

Sejamos honestos

Um sábio hindu afirmou que viver é criar, transformar-se e triunfar. A vida exige-nos triunfar, mas não ao preço de perdermo-nos a nós mesmos, não ao preço de entregar a alma à troca, ou seja, de perdermos a honestidade.

O contrário da honestidade é a corrupção, a mais grave doença da alma, pois com ela perde-se a verdadeira natureza humana e no espaço desocupado entra a besta astuta e sem escrúpulos, para quem os outros se convertem em meios e deixam de ser fins em si mesmos. Essa besta é o egoísmo, o medo e a soberba que vivem entre as nossas próprias sombras, escondidos na escuridão, esperando uma nova vítima, esperando devorar o melhor de nós mesmos, os nossos valores morais, os nossos sonhos e ideais, a nossa honestidade.

Árduo assunto a honestidade. É como uma jóia de puríssimo resplendor que devemos manter limpa e intacta, seja qual for o preço a pagar. Na filosofia egípcia é a pena da Deusa MAAT – a Ordem, Verdade e Justiça – que governa o universo, e se o coração pesa mais do que ela, sentimos que somos devorados pela vida e tornamo-nos rígidos, duros e impiedosos.

A honestidade é o resplendor da alma, a beleza interior, a esperança do mundo, pois um mundo sem honestidade caminha inexoravelmente para a destruição.

Falta honestidade e qualquer ser humano se converte no nosso potencial inimigo, no nosso futuro predador ou vítima. Aquele que perde a honestidade perde tudo, e é tão fácil perdê-la num mundo onde o dinheiro é a medida de todas as coisas! E por detrás desse dinheiro está, muitas vezes, a sede da sensação sem fim, como mil peixes com a boca aberta pedindo comida, o desejo imoderado de prazer e poder, a falta de peso moral.

Um político que busca a honestidade para atrair votos já está corrupto. A honestidade não é um meio para alcançar os nossos fins egoístas, é a natureza mais íntima do ser humano.

Cícero diz que a honestidade leva necessariamente à felicidade, por muito esforçado e difícil que seja protegê-la; a perda de honestidade leva à atrofia interior, à morte da alma. Não há paz para quem por medo ou avidez entregou o melhor de si como moeda de troca.

Aristóteles dizia que virtude, ou excelência absoluta, é a que tem por finalidade a beleza da alma e a honestidade.

Até o famoso treinador português, José Mourinho, hoje treinador do Real Madrid, numa entrevista ao “El País”, de 23 de Agosto, quando lhe perguntaram: “que aprendeu do seu pai?”, responde: “a honestidade”. E continua: “ a honestidade é o mais importante de um treinador e, quem sabe, de um homem (...) Para ser um homem, e para passá-lo ao futebol, para ser um líder, porque um treinador é um líder, parece-me que a honestidade é o mais importante(...) Cometerei erros nas minhas decisões, nas minhas análises, mas guardarei o máximo de honestidade com os meus jogadores. Nunca lhes chegará uma decisão ou uma critica pela boca de outra pessoa.”

A honestidade é o espelho da alma que, quando está puro, e, para além disso, é limpo de prejuízos e artifícios mentais, mostra-nos a alma de todas as coisas, a sua vida interior, os segredos mais íntimos da natureza; e quando se perde, converte-se numa boca escura e insaciável, que tudo arrasta à sua passagem.

A honestidade é a água pura das relações humanas e a única que dá valor às nossas palavras e actos. Quando a misturamos com o interesse próprio, é como quando derramamos tinta ou veneno à água que bebemos. Isso é referido na obra mística e literária, Voz do Silêncio: as puras águas de vida interna, puras e cristalinas não podem misturar-se com as correntes lamacentas da tempestuosa monção.

Quem é honesto de verdade, no final, é sempre amado, o que é desonesto é desprezado ou temido.